Os intitulados “Anos Dourados” que surgiram durante a reconstrução econômica dos países destroçados pela II Guerra, no início da década de 50, não resistiu a pujança dos dominantes da economia mundial e sucumbiu nos meados dos anos 70. Porém, nos bastidores da moda e do jet set internacional ainda persistia a ternura, o glamour e a irreverência protagonizada pelos grandes nomes do cinema, da televisão e do high Society Americano.
Durante esta fase de estase econômico e cultural (1948 – 1975) o mundo teve o prazer de poder apreciar inúmeros eventos culturais que contribuiriam para mudar os rumos da moda e dos costumes das futuras grandes Maisons e Joalherias das principais metrópoles do ocidente.
Os diamantes, cujo mercado era controlado pela De Beers, já exercia seu fascínio centenário sobre as grandes damas do cenário internacional (Diamond is Forever!), assim como as esmeraldas, os rubis e as safiras. Porém, no final da década de 40 (1947) a La Maison Cartier, dando continuidade aos projetos de seu recém falecido presidente Louis Cartier, que tinha uma pequena queda por algumas gemas coloridas de 2ª linha como água-marinha, ametista e turquesa, confeccionou um exuberante colar e brincos para a Duquesa de Windsor compostas por 158 quilates de ametistas brasileiras coradas, turquesas e diamantes. A Duquesa era uma das figuras mais requisitadas nos salões do high Society, devido a sua história com o Rei Eduardo VII que abdicou ao trono da Inglaterra para casar-se com sua verdadeira paixão Wallis Warfield Simpson, que se tornaria a Duquesa de Windsor e ele, Duque de Windsor.
Nessa época (1950 – 70) as gemas coloridas de 2ª linha eram pouco apreciadas pelos brasileiros. Mesmo havendo eventos públicos de enaltecimento dessas gemas que abundavam em solo nacional pelos estrangeiros de diversas nações, como o ocorrido pela Rainha Elizabeth II que recebeu do embaixador Assis Chateubriand, as joias confeccionadas com águas–marinhas na cor Martha Rocha e a exposição frequente da Duquesa de Windsor com seu colar de ametistas.
As ametistas de melhor qualidade, neste período, eram lavradas no Rio Grande do Sul, em pequenas cidades não mais distantes do que 200 ou 300km da capital. Chegavam ao Rio de Janeiro (estado da Guanabara) através de pequenos corretores de pedras que vendiam para as joalherias lotes robustos deste mineral, já lapidado em diversas formas e tonalidades, que seriam, rapidamente, revendidas isoladamente a dezenas de milhares de estrangeiros americanos, japoneses, italianos, alemães e britânicos que, frequentemente, movimentavam o mercado turístico local e invadiam as joalherias da cidade.
Como ninguém que orbitava na cúpula do jet set queria ser ofuscado por seus parceiros de manchetes das colunas sociais, principalmente quando o ocorrido envolvesse protagonismo e ações de vanguarda, a não menos cortejada apelidada de “A caçadora de Tesouros” – Marjorie Merriweather Post , encomendou a La Maison Cartier, no início da década de 1950, um colar semelhante à da Duquesa. A Cartier porém, a fim de contemplar uma de suas mais ilustres clientes e sem criar o início da III Guerra no high Society americano, confeccionou um conjunto de colar e brincos compostos por ametistas brasileiras, turquesas e diamantes com um design diferente, embora, exuberante como costumeiro de sua grife.
As joalherias brasileiras se beneficiaram destas figuras icônicas que alimentavam as redes sociais da época (jornais, revistas e programas de TV) por décadas e produziam suas joias acompanhando a tendência dos ditadores da moda europeia (França, Itália e Inglaterra), uma vez que o mercado joalheiro da Guanabara e de São Paulo era, literalmente, sustentado pelos estrangeiros que aqui viviam, trabalhavam ou visitavam nosso país. A alta sociedade carioca e paulista tinha outras predileções como vestuário, perfumes, automóveis e viagens à Europa, ao invés de joias. Quando as adquiriam, procuravam por peças confeccionadas com diamantes, rubis ou safiras. Era uma questão cultural, apenas!
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