Água-marinha é a uma das gemas mais conhecidas e admiradas em todo o Mundo. É, certamente, a gema mais característica e representativa do Brasil, que deteve a supremacia histórica da produção mundial durante todo o século XX. Arriscamos dizer, no segmento joalheiro, que ela é uma espécie de “embaixadora da gemologia brasileira”, devido a sua importância nos primórdios do desenvolvimento do mercado joalheiro moderno que se deu início após a II Guerra (1938 – 1945), nos anos 50, suprindo o mercado joalheiro e os acervos dos principais museus de mineralogia ao redor do mundo, com magníficos exemplares durante este período.
Na idade média era comum encontra-la em joias e artefatos utilizados por sacerdotes, princesas e nobres. Porém, tornou-se bastante noticiada quando na década de 50, Assis Chateaubriand, então embaixador do Brasil em Londres, presenteou a Rainha da Inglaterra (Elizabeth II) com um colar e par de brincos confeccionados em platina, águas-marinhas e diamantes em nome do presidente Getúlio Vargas. Cinco anos depois, em 1958, quando a rainha Elizabeth II visitou o Brasil pela primeira vez, foi presenteada pelo presidente Juscelino Kubitschek com um broche e uma pulseira também em platina, adornadas por águas-marinhas e diamantes. O terceiro presente foi em 1968, em sua nova visita ao Brasil. O então presidente Costa e Silva deu à rainha uma belíssima tiara, também composta por diamantes e águas-marinhas. A Rainha já teceu inúmeros elogios as suas joias de águas-marinhas e declarou que são suas joias prediletas e que as usa sempre que tem oportunidade. Bem se nota tal predileção, observando a foto (ao lado) onde recebe uma comitiva oficial, usando a diadema, colar, brincos e pulseira.
A água-marinha é uma gema de coloração que varia entre o verde azulado até o azul intenso e, pertence a um espécime mineral denominado de Berilo, cuja fórmula básica de sua composição química se apresenta como silicato de berilo e alumínio (Al2Be3Si6O18). O azul intenso, semelhante a coloração do céu em tarde de inverno, é a tonalidade mais valorizada.
No final dos anos 50, em virtude dos magníficos olhos azuis da mais bela jovem coroada Miss Brasil de 1954 e 2ª colocada no concurso de Miss Universo, Martha Rocha, esta tonalidade de azul intenso que apresentavam algumas águas-marinhas ficaram popularmente conhecidas como “azul Martha Rocha”.
Esta gema teve o seu ápice comercial por duas décadas, entre os anos 70 e 90, onde poderiam ser encontradas em todas as vitrinas das joalherias brasileiras. Seus preços variavam, de acordo com a tonalidade, tamanho e pureza, entre US$ 50 e US$ 1,500 por quilate, salvo os espécimes destinados para colecionadores que poderiam ser comercializados por até US$ 3,000 por quilate. No final dos anos 90, devido a descobertas de grandes jazimentos de águas-marinhas no continente africano, a oferta extrapolou o limite da demanda internacional por este tipo de mineral e saturou o mercado fazendo com que seus preços despencassem. Hoje, após quase 30 anos do ocorrido, a oferta começa a se equilibrar em relação a demanda trazendo aquelas as de qualidade consideradas como comercial+ ou superiores, seus preços para patamares mais justos em relação à sua tradição e raridade.
O berilo de qualidade gema apresenta-se límpido, transparente e translúcido, de brilho intenso, vítreo, bem cristalizado, com belas colorações, formando as variedades preciosas – denominadas de gemas – bastante apreciadas e procuradas pelo setor joalheiro internacional. Suas nomenclaturas comerciais irão variar de acordo com suas colorações. Se a cor abranger todo o espectro do azul, refletindo as tonalidades encontradas no mar ao longo do imenso litoral brasileiro, é denominado de água-marinha; se for verde vivo e intenso, chama-se esmeralda (daí o uso da expressão verde esmeralda); se a cor é rosa ou rosada é a morganita ou vorobyevita; se for amarelo-dourado ou amarelo esverdeado é heliodoro e a variedade vermelho ou vermelho vibrante é chamada de bixbita. Uma outra variedade, a incolor, chama-se goshenita, mas é muito pouco apreciada e raramente utilizada como gema. A principal causa da variação das cores deste espécime mineral irá ocorrer, na sua maioria das vezes, pela impregnação por um elemento químico determinante, que no caso da água-marinha seria o Fe+2 ou F+3.
O Brasil detém uma das maiores potencialidades geológicas para depósitos de berilo industrial e de qualidade gema, que são os jazimentos de pegmatitos graníticos. As atuais reservas oficiais conhecidas destes pegmatitos são as Províncias Oriental do Brasil, que englobam os Estados de Minas Gerais (detentor das maiores reservas), Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Ceará. Citam-se também outras pequenas províncias, como as de Goiás/Mato Grosso, Paraná/São Paulo e a da região de Tenente Ananias, situada no extremo oeste do Estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, grande produtora de água marinha. Materiais de cor e tonalidades semelhantes à água-marinha, podem ser confundidos com esta gema rara, tais como o vidro, o espinélio e o corindom sintético.
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